O Leão, O Cordeiro e A Livraria - Capítulo Dois

Atenção: Esta história pertence à primeira temporada das Crônicas de Forks, e trata-se do gênero Fanfiction, uma ficção dentro do universo de uma história pre-existente. Neste caso, da Saga Crepúsculo. Esta é a  primeira história da primeira temporada. Para conhecer as demais histórias, num índice completo, clique AQUI.




Eu estava fascinada com a beleza do lugar. Eu olhei para mim mesma, vestida de vermelho, com o cordãozinho no pescoço com o camafeu pendurado. Olhei em volta. Uma multidão se aglomerava na praça central. E eu estava sendo empurrada para perto de uma fonte, bem no meio da praça.

Eu quase não podia acreditar no que estava vendo, no que estava vivendo. "Funciona mesmo, afinal!" Melhor: eu estava dentro do livro de Stephenie Meyer!

Olhei para o grande relógio, próximo do meio-dia. As badaladas estavam prestes a tocar. Eu ouvia brados de vivas do povo apinhado na praça. Senti um empurrão e quase caí, se não fosse a quantidade de gente ali. E ouvi o grito, próximo ao meu ouvido, da pessoa que havia me empurrado.

"Edward!"


Meu coração deu um pulo no peito. Era ela! Era Bella Swan, bem ali do meu lado, tentando abrir um buraco no meio da multidão para chegar até Edward antes que o relógio começasse a dar as badaladas do meio-dia! Ela estava desesperada!

A multidão a castigava, formando uma parede. E ela tropeçou na fonte, caindo dentro da água gelada. Coitada! Fiquei morrendo de pena!

Eu fui acompanhando de perto a corrida dela, louca pra ajudar. Ela gritava sem parar, quando o relógio começou a soar. Eu olhei em frente, ao lado do relógio, num beco escuro. Um leve brilho se fazia notar. Meu coração pareceu que ia parar.

"É ele! É ele ali!" Eu estava extasiada, morrendo de vontade de vê-lo! Mas, o que eu faria quando estivesse bem perto deles?

Eu corri o máximo que eu pude, contra a multidão, tentando vencer os metros que faltavam para aquele lado da praça. Bella atravessou a fonte, e, ao sair, tornou-se mais fácil para ela, pois as pessoas se afastavam para não receberem respingos de água gelada naquele frio. Ela não parecia se importar. Ao contrário: aproveitou o espaço aberto para correr mais.

Mas ela não fora feita para correr. Aquela garota era uma garota descoordenada, e tropeçou várias vezes, o que atrasava ainda mais seu objetivo. O relógio soava e eu via Edward ainda mais perto da luz, com seu peito nu maravilhoso e um leve brilho na claridade.

E eu não me contive: corri para ele.

Eu cheguei antes de Bella, mas freei meu passo. Esperei que ela chegasse perto dele primeiro. Guardei uma distância segura, para ouvi-los, sem que eles me vissem.

E Bella se chocou contra ele como se tivesse se chocado contra uma parede. Só não caiu no chão porque Edward, automaticamente, a envolveu com seus braços de pedra branca e reluzente.

"Edward, volte! Por favor, Edward, volte!" Bella suplicava. Ele apenas acariciava seus cabelos.

"É incrível! Carlisle tinha razão!"

Bella tentava explicá-lo. Eu não conseguia ouvir tudo ali, paradinha, vendo aquelas duas figuras enormes se aproximarem no escuro do beco.

"Edward, acorda!" Eu gritei.

Me arrependi na hora do que fiz. Edward focou os olhos e agiu rápido, se colocando entre Bella e os dois encapuzados. Bella, atrás de Edward, olhava diretamente para mim, com o cenho franzido. Eu olhava para ela suplicante.

Edward ora olhava para mim, ora para os dois encapuzados. Então comecei a pensar em tudo o que estava acontecendo, para que Edward lesse meus pensamentos e soubesse porque eu estava ali e como eu sabia.

Mas isso não ia ajudar. Felix e Demetri estavam lá, e haviam ouvido meu grito.

Eu era uma humana, em terra de vampiros poderosos.

E eu sabia demais.


***




Eu me amaldiçoei três vezes. Furei a recomendação da Sra. Poppins, e agora, eu estava ali, no meio do fogo cruzado. Morrendo de medo, claro. Segurei o camafeu com toda força, com minhas mãos.

Mas eu não podia fugir assim. Não sem antes consertar tudo. Ou o futuro de Bella e Edward poderiam ser bem estranhos. No mundo dos vampiros, com os Volturi no comando, não se perdoa aquele que expõe os segredos deles. Disso eu sabia bem, pois eu lia avidamente os livros da saga Crepúsculo.

Fiquei ali, na boca da ruela, paralizada, sem condições de me mexer. Felix e Demetri olhavam ora para mim, ora para Bella. Eu não podia ver seus olhos claramente, mas eu sabia: eles estavam com sede.

Edward tentava proteger Bella, mas eu estava fora de sua proteção. Ele sabia que eu estava com medo, pois em meus pensamentos eu implorava por sua ajuda. Ele olhou para mim e me chamou com os olhos, calmamente.

Eu entendi. Nada de alarde, nada de movimentos bruscos. Nada de chamar a atenção. Fiquei bem próximo a Bella, que não estava entendendo nada sobre minha presença ali. E eu não podia falar, não sem ser ouvida pelos dois grandalhões que estavam ali.

"Não vou precisar mais dos préstimos de vocês. Mas, eu agradeceria muito se enviassem meus sinceros agradecimentos aos seus mestres." Falou Edward calmamente para os dois vampiros. Felix mostrou os dentes.

"Vamos levar esta conversa para um local mais apropriado?" Eu podia sentir o olhar ameaçador dele em minha direção e na direção de Bella.

"Eu não acredito que isso vá ser necessário" Edward disse com voz dura, agora. "Eu conheço suas instruções, Felix, e eu não quebrei nenhuma das regras."

Eu percebi quando Felix olhou diretamente para mim, apesar das sombras em seu rosto.

"Felix estava meramente tentando apontar a proximidade do sol" a outra voz disse, suavemente. "Deixe-nos procurar um esconderijo melhor."

"Eu estarei bem atrás de vocês" Edward disse a eles. "Bella, Lisa, porque vocês não voltam para a praça e aproveitam o festival?"

Era tudo o que eu queria, mas eu já sabia o que Felix iria responder.

"Não, traga as duas garotas" ele disse, de um jeito malicioso.

"Eu acho que não." Edward falou, com falsa civilidade.

"Não" Bella disse. Eu queria protestar e sair correndo, aparentemente tudo tinha voltado ao normal, mas minha aparição ali não seria esquecida pelos Volturi. Eu sabia quem eles eram e tinha aparecido do nada. Eu teria explicações a dar, tanto aos Volturi quanto aos Cullens. Bem, ao menos Edward já conhecia minhas explicações.

Demetri falou agora: "Aro simplesmente gostaria de falar com você novamente, para saber se você decidiu se juntar à nossa força, afinal."

"Certamente." Disse Edward. "Mas as garotas ficam livres."

"Eu temo que isso não seja possível... nós temos regras a obedecer."

"Então, eu temo que serei incapaz de aceitar o convite de Aro, Demetri."

"Isso está bem." Felix falou. Eu não agüentava mais acompanhar aquela conversa. A agonia estava tomando conta de mim, e eu estava com medo de morrer, com medo de não voltar mais para casa, com medo de ficar ali, presa ao livro para sempre. Segurei o camafeu com mais força ainda, mas eu percebi que, se eu desaparecesse, Edward teria que responder por mim. Eu o coloquei em maus lençóis. Eu tinha que acertar as coisas.

"Aro ficará decepcionado" Demetri falou.

"Eu tenho certeza de que ele sobreviverá" Edward completou de modo frio. Mas os dois brutamontes abriram caminho para que Edward entrasse mais na ruela, de modo que se protegesse nas sombras e, ao mesmo tempo, ficasse entre os dois. Edward não se moveu. Ele estava usando o corpo para proteger a mim e a Bella. Então, eu a vi chegar, dançando, com sua voz de sininho.

"Vamos nos comportar, sim? Têm damas presentes." Alice parecia caminhar casualmente, mas eu podia ver que ela vinha para o nosso lado em posição de proteção. Subitamente, olhando-a, apesar de ser linda como uma fada e parecer delicada, eu senti medo. Um medo inconsciente. Um medo que a Bella deveria sentir pelos vampiros da família Cullen, mas não sentia por que havia nascido para estar entre eles. Mas eu não. Eu não fui predestinada a essa vida: eu era uma humana normal, frágil e apetitosa. E estava ali, no meio de um monte de vampiros poderosos.

"Nós não estamos sozinhos." Falou Alice, apontando para uma família na praça, olhando para nós. Eu não precisava me virar. Eu já sabia que aquela seria a desculpa para nos infiltrarmos mais naquele beco escuro. Um arrepio percorreu minha espinha. Edward se retesou e Bella me olhou outra vez, intrigada, mas com compreensão. Ela entendia minha situação. Ela sabia que eu estava com medo e que nós duas éramos frágeis demais para estarmos ali.

"Vamos" Edward concordou. "E nós vamos embora silenciosamente agora, para que nenhum seja o mais esperto."

"Pelo menos vamos discutir mais reservadamente" murmurou Demetri, olhando para mim. Eu podia perceber suas narinas infladas, aspirando meu cheiro. Me arrepiei mais uma vez.

"Não." Edward falou entre os dentes.

"Basta!" Uma voz alta falou atrás de nós. Agora que eu estava acabada! Era Jane, eu sabia! Edward olhou para mim mas disfarçou. Na certa ainda estava surpreso por eu saber tanto sobre eles. Talvez ele não acreditasse na minha versão de 'ter entrado num livro', mas estava sentindo minha tensão.

Ela era linda.

"Sigam-me". E ela deu as costas e entrou beco a dentro. E toda a comitiva passou a caminhar também, e eu lá, no meio deles, morrendo de medo. Alice foi na frente, logo atrás de Jane. Pelo menos ela preveria qualquer movimento antes que acontecesse. Edward puxou Bella e me olhou para que eu ficasse bem junto dela. Condescendente, Bella me abraçou com um dos braços, para me manter a salvo junto com eles, e o outro braço passou por Edward. Ela estava passando por um momento difícil, depois de meses sem vê-lo numa depressão profunda. E agora, estávamos ali, prestes a morrer.

"Bem, Alice" Edward começou. "Não devo ficar surpreso por te ver aqui."

"Foi meu erro" ela falava casualmente. "Era meu trabalho consertar as coisas."

Eu conhecia bem aquele diálogo. Era sobre a Bella ter saltado do penhasco, provocando o mal entendido que levou Edward a Volterra para tentar se matar. E agora, estávamos todos ali. Claro, eu estava de intrometida que eu era. Edward lia meus pensamentos e os de Alice, simultaneamente, percebendo que contávamos a mesma história. Ele não parecia intrigado. Apenas casual.

Então, havia chegado o buraco. Era a parte que eu mais odiava. E Edward olhou para mim novamente, sabendo que eu sabia daquela parte.

Ai.

Eu queria ser forte, como eles eram, mas eu simplesmente não conseguia. A claustrofobia estava me dominando, diante daquele buraco. Eu não queria me jogar ali, mesmo sabendo que eu seria amparada por Alice, assim como Bella fora.

"Lisa, você sabe que Alice vai te segurar." Edward falou.

"E-eu não consigo..." eu gaguejei. Eu senti a presença de Felix se aproximar. Edward retesou o corpo.

"Não é necessário, Felix." Eu havia perdido alguma coisa. Felix voltou ao seu lugar. 

Eu não queria mais causar problemas, mas senti que ia ter um ataque de pânico. Antes que eu pudesse pensar mais sobre isso, rapidamente como um raio Edward me segurou pelos braços. Ainda que rápido, esse movimento havia sido suave. Ele me soltou e Alice me agarrou com seus braços duros e frios. O impacto fez com que eu me encolhesse. Ela me colocou de pé ao lado de Bella. Eu não podia ver normalmente, apenas pela leve luz que vinha do próprio buraco. O resto seria um túnel escuro.

A claustrofobia estava voltando.

Tomei um susto ao perceber que Edward, Felix e Demetri já estavam atrás de mim. Eles tinham sido surpreendentemente silenciosos. Apesar de eu já saber disso, mas viver isso era ainda mais assustador.

Me apavorei com o barulho da grade fechando o buraco. Olhei para Bella e vi o mesmo sentimento em seus olhos.

Começou a caminhada. Eu andava atrás de Alice, e Bella e Edward ficaram o tempo todo abraçados. Era um momento íntimo para eles. Eu tinha vergonha de olhar. Eu tentei evitar meus pensamentos, para que Edward não descobrisse o que estaria por vir, o que Bella estava pensando. Eu queria preservá-la. Eu já tinha feito interferências demais.

Corredores e corredores se passaram, até que chegamos a um elevador. E lá estava a criaturinha infernal. Jane. E eu com medo de entrar lá. Eu sabia o que ela podia fazer. Mas não tinha ideia da dor. Eu nunca a tinha sofrido, só imaginado.

Então, pude ver o rosto dos três vampiros aterrorizantes. Jane era angelical, como eu imaginava. Mas havia um brilho maléfico em seus olhos, voltados para mim, que me fazia encolher. Demetri e Felix eram enormes, e ficavam o tempo todo inflando as narinas para mim e Bella. Talvez, estivessem escolhendo quem ficaria com quem.

Edward ficava o tempo todo tenso, ouvindo os nossos pensamentos.

Chegamos a uma sala. A sala onde estava Gianna, a secretária humana que queria ser uma vampira. Ela não esperava por minha presença, mas não disse nada. Apenas cumprimentou Jane. Alec, irmão de Jane, a cumprimentou com um beijo no rosto. Minha aparição não tinha mudado muita coisa, então.

Eu estava começando a ficar aliviada. Mal podia esperar o momento certo para sair dali.

"Bem vindo de volta, Edward" Alec falou. "Você parece de melhor humor".

Claro, pensei. Ele estava vendo a razão da vida dele, Bella, viva. Ele não queria mais se matar.

"Marginalmente" concordou Edward. Alec gargalhou e olhou para mim e para Bella.

"Então? Qual delas é a razão dos seus problemas?" Edward não respondeu. Depois, ele congelou e se virou para encarar Felix, de modo ameaçador. Felix apenas ergueu um dedo, convidando-o para brigar.

Alice tocou-lhe o braço. "Paciência."

Eles trocaram um olhar. O que será que ela estaria dizendo para ele?

"Aro ficará agradado em te ver novamente" disse Alec.

"Não vamos deixá-lo esperando" completou Jane. Ela segurou a mão de Alec e os dois saíram de mãos dadas pelo corredor. Abriram um painel que dava para outro túnel escuro de pedra.

Mais daquilo. Olhei para Bella. Ela também não gostou. A diferença é que eu já sabia onde aquilo daria. Ela não. Pior: eu não sabia o que minha presença ali traria de diferente para o final dos livros. Era por isso que eu estava apreensiva.

Seria eu rápida o bastante para fugir quando chegasse a hora?


***




Chegamos, finalmente, à camara dos Volturi. Era escuro, dois andares acima tinham algumas janelas que permitiam a entrada do sol. E só. A guarda dos volturi, as esposas, todos estavam lá. Aro, Caius e Marcus também.

E eu estremeci, quando vi o vampiro de pele translúcida saudar Jane. Eu sabia quem ele era. Aro.

"Eu o trouxe de volta vivo, como você o desejou" disse Jane para ele.

"Ah, Jane... você é um conforto tão grande para mim!"

Eu estava enlouquecendo. Eu não queria escutar aquela conversa novamente. Aro olhou para mim e, em seguida, para Edward, inquisidoramente.

"Não, não é ela." Edward explicou a pergunta silenciosa. "Esta é Bella." ele apontou para ela. Pelo teor da conversa, Aro não havia tocado Edward, portanto, não sabia quem era Bella, pois não havia lido seus pensamentos.

Ele dispensou Félix.

"Bem, fico feliz que você tenha tido seu final feliz. Já imaginou se eu tivesse te concedido o que você quis ontem?"

Ele sorriu paternalmente. Edward não respondeu.

"Mas esta outra garota... bem, ela não deveria estar aqui..."

Pronto. Problema. E agora? Como explicar? Não podíamos mentir, afinal, ele saberia depois. Marcus toca a mão de Aro, para transmitir-lhe seus pensamentos. Segundo eu me lembrava, no livro ele fazia isso para mostrar a Aro as relações entre Alice, Edward e Bella. Esse era o dom de Marcus: ver o poder das relações entre vampiros e entre humanos. O que ele teria transmitido a meu respeito? Afinal, não haviam relações afetuosas deles para comigo, apesar de eu amar Edward, Bella e Alice.

Aro apenas disse um "oh" e olhou para mim. "Interessante".

Eu senti que era hora de fazer alguma coisa. Edward olhou para mim.

"Não precisa fazer isso."

Eu já estava decidida. Alice parecia tranqüila. Então, passei à frente com minha mão estendida.

Aro ficou intrigado, mas estendeu a mão para mim.

"Você sabe a esse respeito?"

Então, ele segurou minha mão. E ele soube. De tudo. Da livraria. De Mary Poppins. De Stephenie Meyer e dos livros. E de minha chegada até ali. E Edward assistia nossos pensamentos.

"Ora, mas isso é fascinante!" Disse Aro. "Isso é realmente verdade?" Ele dizia para si mesmo. Eu não falei nada.

"Não precisa fazer isso." Edward falou. Desta vez, para Aro. Para algum pensamento dele que eu não sabia o que era. Mas era ao meu respeito. Eu fiquei com medo.

"Ela sabe demais. Ela sabe inclusive mais que sua querida Bella. Ela não poderá sair daqui. Jamais."

O pânico começou a tomar conta de mim. Eu queria correr, mas eu sabia que não haveria jeito. Eles eram incrivelmente mais rápidos, e mais fortes também. Eu viraria petisco de vampiro.

Foi quando Jane se aproximou, com um meio-sorriso.



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