A Dríade do Mar - Capítulo Cinco

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Esperei dias para que ela viesse me procurar. Agora eu sabia que ela o faria. Isso aquecia meu coração. Eu estava até feliz. Os outros empregados chegaram a me observar de maneira estranha, mas eu não podia me deixar levar. Todos eles eram Efidríades, o que significava que poderiam me matar em menos de um segundo. Eu tinha que manter minha autoridade sem irritá-los. De qualquer forma, eu tinha proteção real. O que já era alguma coisa naquele lugar.

Por dentro das roupas que vestia, que agora eu já sabia como eram confeccionadas com fios tecidos a partir de fibras de algas e outras plantas aquáticas, eu sempre guardava o pingente da princesa. Thalassa viria me procurar, eu sabia.

Enquanto organizava tudo, antes de me recolher, eu sempre esperava que ela aparecesse de surpresa. Mas durou dias até que ela voltasse.

"Charles".

Dei um pulo. Eu não esperava, mas estava feliz.

"Alteza, você voltou!"

Ela sorriu. Um sorriso que eu nunca vira antes. Seus dentes brancos e retos eram lindos naquele sorriso, diferentemente de quando era uma efidríade ameaçadora. Ela estava encantadora com seus cabelos róseos caindo por sobre os ombros e descendo até a sua cintura.

"Sim, Charles. Podemos conversar? Perdoe-me pela minha retirada da última vez. Estou um pouco difícil de me controlar nos últimos tempos."

"Não se preocupe, Alteza. Só não entendi a razão de seu tormento. A senhora disse que precisava salvar sua espécie... mas era algo que parecia além de suas forças..."

Ela sorriu tristemente. "Em primeiro lugar, Charles, quando estivermos sozinhos não precisa me chamar de Alteza. Me chame apenas de Thalassa."

"Thalassa..."

"Sim. Em segundo lugar, sim. Há algo que tenho que fazer, mas que está além do que eu poderia ou gostaria."

"É tão ruim assim?"

Thalassa suspirou. "Você é um humano, Charles. Eu já convivi com humanos durante cinqüenta anos e sei como vocês se comportam."

Meus olhos se abriram. "Cinqüenta anos?"

Seu sorriso foi musical. "Nós vivemos bem mais que sua espécie, eu diria." Então, ela voltou a ficar triste. "Para vocês, tudo é mais fácil, mais simples. Um homem se apaixona por uma mulher, os dois se casam, têm filhos, etc. Se algum dia esse amor não mais existir, os dois se separam, e poderão casar-se novamente, terem outros filhos, enfim. Eu invejo essa liberdade."

Então tudo se tratava de nossos relacionamentos não duradouros?

"Não entendo... como os casamentos acontecem por aqui, alt... Thalassa?"

Ela suspirou novamente. "Todos os Efidríades têm direito de se casar, viverem juntos, terem filhos, serem felizes... Mas, para que isso aconteça, é necessário que eles tenham um lider vivo, que os mantenha vivos."

Aquilo me confundiu. "Como assim? Você e sua mãe os mantém vivos? De que forma?"

"Nós somos a essência desse lugar. Os Efidríades não foram criados para existir fora da água. Somos uma espécie que tem de estar sempre em contato com a água salgada. Se sairmos, temos que voltar logo. Para que possamos viver em sociedade, assim, como cidadãos dessa cidade, todos os Efidríades precisam da presença do Sangue Original. O sangue original é preservado na nossa linhagem, a linhagem real."

"Isto significa que, se você ou sua mãe não mais existirem..."

"Todos os outros também morrerão."

"Bem, mas vocês vivem muito, certo? E sua mãe ainda está no comando, e depois você, então... há muito tempo."

"Eu já teria que ter me casado, Charles."

"Bem..." eu quase engasguei. "E por que não o faz? Não há... ham, pretendentes para isso?"

Ela sorriu novamente. "Há apenas um."

"E...?"

"Ele é o único que possui sangue original. O único com o qual eu devo me casar. E a quem eu não amo, não desejo, não sinto... absolutamente... nada!"

"E... suponho que isso seja... inaceitável..."

"Não faz idéia, humano. Eu me recusei a casar com ele. E levo nas minhas costas a condenação de meus pares. Se não me casar em um ano, não poderei mais me casar de jeito nenhum. Não serei mais fértil. Sim, poderei viver ainda mais uma centena de anos... mas e depois? Quando eu morrer, todos morrerão. Condenarei todos à morte por causa da falta de amor... Mas, e se eu me casar e cumprir meu destino? Viverei uma centena de anos com alguém a quem não amo? Um completo desconhecido!"

Depois dessa explosão, o que eu poderia dizer? Sentei-me em um canto atordoado. Se algum dia eu tive qualquer desejo por aquela efidríade, agora eu não tinha chance nenhuma. Ela era isso. Uma princesa linda, perfeita, mas intocável.

"Jamais serei feliz, Charles. Jamais."

E então, tão rápido quanto veio, ela se foi, deixando uma sombra de tristeza em minha vida.


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