Desabafo de Escritora

Eu fui criada lendo livros densos, já lia Stephen King aos onze anos de idade. Gosto de contos russos, gosto de livros que te prendem do começo ao fim. Gosto de livros modernos, amo a escrita de Dan Brown, que deixa você no suspense, sem te dar todas as informações logo nos primeiros capítulos. Na verdade, você só descobre o que está acontecendo no final - sério. E, como somos aquilo que absorvemos ao longo dos anos, minha escrita acabou se aproximando bastante da escrita de meus autores favoritos, que não só incluem os supracitados, como também Agatha Christie (li todos os seus livros ainda na época de colégio), Robin Cook, Harlan Coben, e alguns nacionais, como Eduardo Spohr, André Vianco, e os clássicos Machado de Assis e José de Alencar.

O meu desabafo é com relação aos leitores de hoje. Sinceramente, tem gente lendo demais, mas só em quantidade, e não em qualidade. Não quero aqui dizer que livro A ou B é melhor do que outros - sério, tenho coleções completas de livros modernos, como a série Deusas, de P.C. Cast (autora de House Of Night, que embora eu não tenha a coleção, já a li toda), Academia de Vampiros e Bloodlines de Richelle Mead, Hush!Hush! de Becca Fitzpatrick, também li livros como a Saga Crepúsculo (não tenho vergonha de dizer). Mas meu desabafo é bem simples.

Os leitores de hoje estão tão acostumados com narrativas simples, com narrador personagem, cujo protagonista é um(a) adolescente, que quando se deparam com uma escrita mais aprofundada, com menos detalhes "mastigados" e menos "descrições detalhadas", se perdem no texto.

São leitores que jamais conseguiriam ler um livro de Dan Brown, porque o livro não dá todas as informações no início. Achariam um livro de Agatha Christie chatíssimo, porque simplesmente seus detetives guardam as informações para si, para dá-las num momento oportuno. Odiariam escritores incríveis como Stephen King, cuja alma sombria leva o leitor pouco a pouco ao desfecho.

Leitores acostumados a narradores que são os próprios personagens, e que sabem tudo o que seu personagem sabe, vendo tudo de um único ponto de vista, quando se deparam com narrador observador ficam perdidos, quando o foco muda de um personagem a outro.

Leitores impacientes, que não conseguem se contentar com as informações dadas pelo autor, e não adentram a história completamente, porque simplesmente não sabem aguardar o momento das descobertas.

Leitores que leem bastante, mas, pelo visto, não leem livros de qualidade, que os faça realmente entrar na história.

Hoje temos leitores de diversos tipos: os que leem YA, os que leem fantasia, os que leem chick-lit, os que leem aventura, etc.

Sou de uma época em que o leitor lia de tudo, e embarcava na história, mesmo ela sendo diferente uma da outra. Sou leitora de uma época em que um conto não diz tudo, mas apenas o suficiente para adentrar a emoção do momento. Sou leitora de uma época em que uma história não tem todas as informações e sua cabeça viaja, para chegar ao fim junto com o autor. Sou leitora de uma época em que não havia pressa para acabar um livro numa noite, em dois dias, em três dias. A gente não lia correndo, mas lia devagar, apreendendo a história, mastigando-a, deglutindo-a, saboreando-a, digerindo-a, ao invés de simplesmente ler desesperadamente para saber o final.

Às vezes, vejo um comentário de um leitor, englobando todos os pontos fracos de uma leitura sem qualidade, e quais as razões para achar livro A ou B ruim, e fico me perguntando: que espécie de leitores temos hoje?

É uma pena.

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