Superstar - Capítulo Cinco

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Parecia um sonho bom, mas a atmosfera era assustadora. Eu estava em um jardim cheio de flores vermelhas enormes, e, quando passava por elas, eu via sair de seus centros uma luminescência branca e brilhante, que me rodeava. Era tudo tão bonito, mas havia um som... eu não sabia identificar, uma música que me deixava aterrorizada. E então, aquela luminescência vinha até meu rosto, e quando eu a respirava, sentia minha cabeça cada vez mais leve, como se pudesse voar, como uma droga. Mas aquilo estava me fazendo mal, e senti vontade de vomitar.

Foi quando caí num buraco sem fim, e me sentia afundando e afundando. Luzes piscavam nas paredes desse buraco, e me deixavam tonta e em desespero. Eu queria acordar, mas não conseguia. Então, depois do que parecia uma eternidade, cheguei à beira de um rio.

O lugar era escuro, e do rio subia o mal cheiro de podridão. Alguma coisa me empurrava para ele. Eu queria voltar, lutar contra, mas não conseguia. Ao mesmo tempo, um barulho ensurdecedor estava à minha volta. Uma força me empurrava, e meus pés já estavam mergulhando no rio putrefato. Desesperada, tentava voltar, mas era mais forte que eu.

Foi quando despertei.

E eu não sabia se ainda estava dentro de um pesadelo.


***

"O que estão fazendo? O que estão fazendo!"

Eu gritava, mas as pessoas à minha volta simplesmente pareciam não me ouvir. Eram duas pessoas, vestidas de branco, com máscaras hospitalares, e aplicavam coisas em minhas veias. O som ensurdecedor vinha de várias caixas de som no quarto onde eu estava, e não havia janelas. Percebi que as duas pessoas que estavam ali também tinham um protetor auricular, e o som não as irritava. Era um som de unhas arranhando uma superfície lisa, e era extremamente irritante. Eu tinha vontade de gritar.

Depois de um tempo incalculável, eles saíram do lugar. E então, tudo se apagou. As luzes, o som, tudo. Eu conseguia ouvir apenas o som da minha respiração. Nada mais. O medo chegou a mim ainda mais forte, pois eu sabia que estava acordada, mas o senso de realidade me ameaçava deixar.

Até que algo que me foi injetado fez efeito, e apaguei completamente.

***

Flashes. Luzes. Sons. Pessoas correndo e gritando, fazendo perguntas. Onde eu estava? O que estava havendo? Eu não sabia. Nem sequer me lembrava de porque estava ali.

Abri os olhos. Era uma ambulância. Um homem estava ao meu lado e segurou minha mão. Olhei para ele. Eu não o reconheci a primeira mão. Mas havia algo em seus olhos que me deixava atormentada. Seus olhos eram profundos e tinham um toque de crueldade, mesmo ele me olhando de modo suave e tocando minha mão de modo tranquilizador. Eu sentia pavor daquele olhar e não sabia a razão.

Então, as portas da ambulância se abriram, e uma multidão estava lá. E colocavam microfones na minha frente, e câmeras, e flashes, e faziam perguntas.

"Você teve problemas com drogas?"

"Como está sua vida agora?"

"Você vai abandonar a carreira?"

"Vai se internar?"

"O que aconteceu?"

Eu estava atordoada. Aquela enxurrada de perguntas me pegou desprevenida. O que eles estavam dizendo? Abandonar a carreira? Eu sentia vontade de chorar! Drogas? Eu nunca havia usado drogas na minha vida!

Apesar de poder caminhar, o homem que segurava minha mão deu ordens aos enfermeiros que me levassem na maca. Olhei em volta confusa e vi que estava de volta à minha casa. Eu sequer me lembrava de ter saído de lá. "O que está acontecendo?" Mas a voz não saiu de minha garganta.

Eu chorava. Chorava porque não entendia, chorava porque queria estar em casa, longe daquelas pessoas, e não sabia porque aquele homem me dava tanto medo apesar de aparentemente cuidar de mim. Eu queria estar em outro lugar.

Assim que a maca entrou em casa e os portões se fecharam, deixando aquele mundo de câmeras para trás, eu desci da maca e entrei caminhando. O homem tentou me puxar de volta, mas eu mostrei meu dedo do meio e mandei ele para um lugar nada educado.

O que estaria havendo comigo?

Fui direto para meu quarto. Uma dor de cabeça lancinante tomava conta. Kim veio me ver.

"O que aconteceu?" perguntei a ela.

"Você não se lembra?"

"Do que está falando? Eu só me lembro de Anne e os seguranças invadirem meu quarto!"

Kim estava desolada. "Você atacou todo mundo, foi um caos! Tiveram que segurá-la. Você deu um soco e quebrou o nariz de Anne, saiu correndo pela casa quebrando todos os espelhos. Ainda estão mudando tudo."

Observei em volta e vi que havia um espelho novo no meu quarto, a contragosto. Olhei para ele e uma morena me olhou de volta.

"Ao menos eu fiquei bem com essa cor." Toquei meus cabelos escurecidos. Disso eu me lembrava.

"Tem certeza de que está bem?"

Olhei para Kim. "Eu não sei. Não me lembro de nada disso. Só me lembro de Anne me aplicar alguma coisa no banheiro. Kim, eu não teria como me livrar dos dois seguranças, eles estavam me mantendo presa para ela me aplicar aquela seringa!"

Kim suspirou. "Megan, eu vi. Você saiu do quarto correndo e me empurrou, depois eu vi Anne sair atrás de você com o nariz sangrando e ordenando aos seguranças que te contivessem. Você quebrou todos os espelhos que encontrou. Eu nunca vi você tão transtornada. Anne mandou que eu ligasse para um número e chamasse a ambulância. Eu achei estranho, pois nunca liguei para aquele número antes. Eles vieram, te prenderam e te levaram embora."

"Quando foi isso?"

"Há dois dias."

"O quê? Eu estou há dois dias fora? Isso para mim aconteceu há apenas algumas horas! Como isso pode ser possível? Eu perdi dois dias de minha vida!"

"Se acalme, por favor!"

Kim olhava a todo o tempo para a porta de saída, na certa com medo de mim.

"Não se preocupe, Kim. Estou bem. Vou ficar. Deixe-me sozinha, preciso descansar."

"Se precisar de alguma coisa, me chame. Vou estar no quarto ao lado."

"Obrigada."

Ela saiu. Olhei em volta. Meu quarto não se parecia em nada como era. Haviam mudado os móveis, a roupa de cama, a disposição de tudo. Olhei-me novamente no espelho e sorri. Ao menos meu cabelo haviam deixado escuro, só não sabia até quando.

Liguei a TV. E me arrependi.

Eu estava em todos os canais. A minha imagem estava arruinada. Eu era a louca que havia agredido os companheiros de trabalho. Como aquilo podia ter vazado?

"Anne."

***



Eu não queria dormir. Tinha medo de dormir, e nem ao menos sabia a razão. Não queria nem mesmo ficar sozinha no meu quarto, mas não tinha coragem de pedir a Kim que viesse. Ela já estava com medo de mim.

Batidas na porta.

"Entre."

A criada da casa trouxe algo para que eu comesse e colocou a bandeja na mesinha do meu quarto, retirando-se em seguida sem sequer me olhar. Suco de laranja, sanduíche, uma fruta. Eu estava faminta. Será que ninguém me deu comida nesses últimos dias?

Comi tudo tão rápido que me senti mal depois. Não, eu não estava me sentindo mal por ter comido rápido. Foi algo que comi que me deixou mal. Olhei no espelho. E vi a loira novamente, rindo de mim.

Tudo no quarto estava girando. O que havia no suco? Caí no chão, derrubando a mesa e a louça. Kim abriu a porta.

"Megan!"

Ela me levantou, mas algo estava acontecendo comigo. Uma raiva. Eu olhava no espelho e a loira ria de mim. Olhei para meus cabelos, e vi mechas douradas.

"Não! Não quero isso!"

"Eu sou você! Sou parte de você! Não pode se livrar de mim!"

Era minha própria voz em minha cabeça, falando comigo. Eu saí do meu quarto, Kim me seguiu, mas eu não queria nada. Olhei, todos os espelhos haviam sido repostos. E todos eles mostravam quem eu não queria ver. A mulher, a vadia que eu havia me tornado, a persona que eu odiava. Eu não conseguia me reconhecer naqueles olhos, naqueles cabelos, naquele corpo, naquela forma de agir. Não era eu.

Eu precisava matá-la, mas não sabia como. Ela estava em mim. Eu queria me livrar dela, precisava, mas não sabia como fazê-lo.

Tonta, consegui chegar até a garagem, a despeito dos protestos de Kim, que agora já chamara todos os seguranças. Não sabia porque, mas eu via Kim implorando aos seguranças que me segurassem, mas nenhum deles obedeceu. Olhei para a janela do meu quarto e vi um rosto conhecido. O olhar assustador estava lá. O homem da ambulância, ao lado de Anne. Eles olhavam para mim, sem nenhuma expressão.

Entrei no meu carro e saí.

Revolution tocava. Eu queria me libertar, precisava disso. Nem mesmo olhava por onde estava indo, era como se uma parte de mim dirigisse enquanto outra parte estava em outros pensamentos. Foi quando estacionei na frente de um salão de beleza que eu soube o que fazer.

Entrei e pedi para a moça raspar minha cabeça. Ela se recusou.

"Por favor! Faça isso!"

"Moça, o que está acontecendo? Não vou raspar sua cabeça!"

"É ela! É a Megan!" ouvi uma outra dizer. Mas eu não estava prestando atenção. Diante da recusa, eu mesma peguei a máquina e comecei a raspar minha cabeça.

À medida que os cabelos loiros caíam, eu respirava aliviada. Era como me livrar de um demônio. E então, foi quando o pior aconteceu.

Alguma coisa despertou minha mente. Quando olhei no espelho, eu estava com a cabeça quase totalmente raspada, e o cabelo que restava era escuro, e não loiro. Desesperada, olhei para as mechas que estavam em meu colo. Escuras. Olhei no chão. Escuras. Não havia um fio loiro sequer.

"Não é possível!"

Eu pegava as mechas, totalmente desequilibrada, e eram todas escuras. Eu havia raspado minha cabeça. Uma risada ecoou nos meus ouvidos. "Você não vai se livrar de mim!"

Olhei para os lados, mas ninguém havia dito nada. Apenas uma moça estava gravando tudo num celular.

"Droga!"

Eu corri de volta para meu carro desesperada. Minha cabeça estava raspada! Minha imagem arruinada! O que seria de mim?

De volta à casa, fui recebida aos gritos por Anne.

"Viu o que você fez? Agora sim, você arruinou-se completamente!"

"Não! Não é verdade! Eram cabelos loiros! Eu pensei que você os tingira de novo!"

"Você precisa de reabilitação!"

Aquela palavra tirou meu equilíbrio. Eu fiquei congelada no lugar, sem conseguir me mover, o medo enraizado em todas as partes de minha pele.

Então, eu vi quando ela fez uma ligação. E pouco tempo depois a ambulância estava de volta. Eu estava sendo levada para o lugar mais desesperador, do qual eu não tinha reais lembranças. Apenas minha pele, meu corpo, algo dentro de mim lembrava-se, pois mesmo eu não sabendo do que se tratava, o terror se apoderou de mim.



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