Cosmic - Capítulo Oito (Final)

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As pessoas estavam apavoradas. Milhares de pessoas desapareciam em torno de todo o planeta. Alguns às vistas de todos. Era como se evaporassem e deixassem no lugar apenas roupas e qualquer coisa que trouxessem consigo. Alguns iam à TV para apresentar suas teorias. As igrejas estavam vazias, mas alguns haviam ficado para trás. Famílias inteiras de médiuns, cristãos, muçulmanos, hindus, desaparecidos. O que ficou para trás foi apenas algumas cartas que diziam a mesma coisa em diversas línguas.

A purificação do Shan começou. Eles foram transformados em seres de cinco dimensões, de acordo com as explicações que foram chegando. Para outros, o Messias voltara e os levara. Para outros ainda, foram desintegrados por naves espaciais.


Apenas Ashenk e Eu sabíamos a verdade.

Ashenk, aproveitando o momento, convocou sua nave, e imediatamente ela veio, obedecendo aos seus comandos mentais. Eu fiquei apavorada. Procurei minha família e vi que estavam todos bem. Mas, ao mesmo tempo, o planeta sofria com o caos.

Carros desgovernados, aviões caindo por falta de pilotos, esposos sem suas esposas e vice-versa, cortador de grama do vizinho ligado pois o dono desaparecera, acidentes de trânsito e nas linhas férreas. Tudo estava virando uma tremenda tragédia.

Ninguém sabia exatamente o que havia ocorrido.

Quando a nave de Ashenk chegou, eu o segurei pelo braço.

"O que vai acontecer agora, Ashenk? Responda! Não posso ficar aqui sem saber o que nos espera!"

"Ok, vou lhe dizer. Se prepare. Um dos Sete Imortais vai ficar aqui por um tempo."

"E por quê?"

"Para garantir nosso sustento, o sustento de toda a frota pelos próximos anos. Mas não será tempo demais. O problema é que, a cada Shan que vamos, um dos Imortais assume o controle do Shan. E agora é a vez do meu pai. E eu já o vi 'assumir' o controle de um Shan antes. Não é nada bom."

"Como assim?"

"Lucy, ele vai destruir este lugar da pior forma possível. Vai destruir as pessoas, vai obrigá-las a obedecê-lo em tudo, vai tratar tudo neste planeta como se fosse um rebanho, onde ele pode pegar o que quiser, na hora que quiser. E ninguém será capaz de pará-lo pois ele é muito poderoso."

Eu não sabia o que fazer. Ashenk após dizer aquilo, deu-me as costas e foi em direção à nave, cuja abertura inferior já estava no nível máximo, aguardando-o. Então, ele se virou para mim e me estendeu a mão.

"Vem comigo, Lucy. Eu vou te levar comigo, e você será salva disso aqui."

"Mas... e os outros? Não posso simplesmente fugir!"

Ele suspirou. "É a única coisa que posso te oferecer, uma fuga. Não temos chance contra os Imortais."

Sem saber se havia outra opção, eu segurei sua mão e o abraçou, ambos entramos na nave.

***

A nave era bela por dentro, Eu nunca havia visto nada igual e fiquei maravilhada. Observei Ashenk controlá-la sem sequer usar nenhum controle visível, e saímos da atmosfera terrestre. Foi quando eu vi a Frota de Ashtar.

Eu sabia, mas saber era diferente de ver. A Frota era tão imensa que eu não conseguia perceber diferença entre uma nave e outra; via apenas um organismo parasitando o planeta. As esferas brilhavam com a força vital que recebiam. E foi quando vi a Nave Mãe destacada das demais.

"Veja. Aquela é a nave do meu pai. Os Imortais estão lá."

"E se atacássemos apenas ela?"

"Você não entende. Isso aqui não é uma nave de guerra. E ainda que fosse, eu jamais faria isso, seria suicídio."

"Precisamos fazer alguma coisa, Ashenk!"

"Espere! Eu me lembro de uma coisa! Eu nem lembrava mais disso!"

Eu vi quando Ashenk colocou os dedos da mão esquerda por uma pequena abertura na palma da mão, tirando de lá um pequeno pedaço de plástico preto. Pelo menos era o que eu pensava ser.

"Isto é um microchip. Eu encontrei quando já era mais velho. Foi deixado por minha mãe, ela escondeu comigo para que meu pai não o encontrasse. É uma mensagem."

"E você já a viu, claro."

"Sim, mas há uma parte dela que está criptografada e eu não consegui quebrar o código. Mas, talvez agora, eu consiga."

"Se você não conseguiu antes, o que garante que você vai conseguir agora?"

"Porque este chip é de um tipo de tecnologia que não temos, não pertence a Metharia. Mas é compatível com o seu planeta."

"Sério?"

"Sim."

"Mas já estamos fora da Terra. Como vamos acessá-lo?"

"Simples. Eu já pensei nisso."

Ele manobrou a nave e saímos da rede de naves da Frota, chegando ao exterior dela. Haviam alguns satélites orbitando o planeta do lado exterior das naves. "Vou usar a sua tecnologia."

Rapidamente, Ashenk já havia hackeado um dos satélites e, usando a própria tecnologia terrestre, acessou o chip em sua nave. Então, a sua mãe apareceu diante dele, no centro da nave. Fiquei surpresa e demorei um pouco a entender, até que percebi que se tratava apenas de uma gravação holográfica. A tecnologia era muito boa, e parecia realmente que a bela mulher methariana estava ali. Era a mãe de Ashenk.

"Filho, se você conseguiu acessar esta parte do chip que deixei para você, é porque está com seu pai na frota, e estão prestes a atacar mais um Shan. Filho, você precisa impedi-los. Seu pai e os Imortais não são o que eles dizem ser."

"O que você quer dizer mãe?"

A mulher parecia ouvir, e respondeu à pergunta, como se já soubesse que ele iria fazer aquela pergunta.

"Os Imortais não são de Metharia. E não são filhos de Adhaim. Os Imortais são seres cósmicos, uma outra raça de seres parasitas. Eu os vi como realmente são. Eles são devoradores de mundos. Eles causaram o Grande Colapso de Metharia, e destruíram tudo em nosso mundo, até que ficamos todos presos na Colmeia, uma construção compacta para abarcar muitas pessoas. Ainda assim, só levaram com eles os que eram frutos da raça deles com nossa raça. Só os mestiços e suas famílias. Todo o resto ficou para trás, para morrer."

Ashenk sentou-se. Ele não parecia surpreso. Sua mãe continuou.

"Ashtar Sheran e os Imortais são parasitas, e vão destruir tudo o que encontrar pela frente. Mas existe um modo de destruí-los. Os povos dos Shan e os Metharianos mestiços. Somos poderosos, podemos enfrentá-los se nos unirmos. Nossa energia vital é o que nos faz mais fortes que eles. Podemos destruí-los usando essa mesma energia que eles tanto buscam."

"Mas como fazer isso, mãe? Sou só eu!"

"Avise os naturais do Shan que está sendo atacado. Seu pai precisa sempre que eles estejam receptivos para serem raptados. Se não houver esse fator surpresa, se estiverem ariscos, isto já basta para que a energia vital se volte contra eles. Eles não vão conseguir. Eu gravei isto em sua sala de comando. Os Imortais não são imortais de verdade, filho. Sem essa energia disponível, eles irão morrer. E se os Shan se recusarem a entregar a energia, eles não conseguem roubá-la, pois a própria energia se torna indisponível. Por isso ele manda mensagens de amor e redenção antes de se aproximarem do Sistema. Você precisa alertar a todos!"

"Mas..."

A mulher interrompeu-o, parecendo ouvi-lo e saber o que ele iria dizer.

"Não se preocupe com os Metharianos e a frota. Nós não precisamos de energia vital dos outros, nunca precisamos. Somos naturais de Adhaim, temos nossa própria energia. A frota não precisa dela. São os Imortais que precisam dela. Sem essa energia, os Imortais serão derrotados facilmente, e a Frota poderá seguir adiante. Mas ande com isso, mostre essa mensagem a todos. Os que já se foram não poderão ser salvos."

Então, a mensagem encerrou. Ashenk olhou para mim, e tinha uma resolução no olhar.

"Vamos voltar?"

Ele balançou a cabeça. "Não será necessário."

***

Frota Intergaláctica
Nave Mãe
Comando Ashtar Sheran

Ashtar observou toda a conversa entre Kali e Ashenk e o ódio cegou-o. Ela descobrira tudo! E conseguira passar as informações para ele.

"Precisamos destruir a nave do meu filho", disse Ashtar aos Imortais. "Ele sabe de tudo e vai passar as informações para o Shan. Vamos perder o potencial de vidas ali."

Os Imortais se colocaram diante de seus quadrantes, prontos para direcionar energia contra a nave de Ashenk. O garoto parecia ser promissor, mas quando encontrou o chip da mãe, começou a dar problemas. "Ele precisa ser eliminado antes disso!"

Mas Ashenk já estava conectado ao satélite terrestre, e o usava para transmitir em escala global a mensagem de sua mãe. Era como se, em cada casa, em cada bairro, em cada esquina, em cada estabelecimento comercial, a sua mãe aparecesse em carne e osso e lhes falasse diretamente.

Muitos não acreditaram. Muitos não se importaram. Muitos se maravilharam.

Mas todos ouviram, e isso foi o suficiente.

Imediatamente, as naves pararam de receber o fluxo de vida do Shan. As luzes se apagaram, e os Imortais sentiram rapidamente o corte da energia recebida. A nave mãe saiu da frente da frota, e guiou em direção à nave do garoto insolente.

"Direcionar fluxo de energia! Agora!"

Os Sete Imortais voltaram-se para a nave de Ashenk. Os dois se abraçaram.

***



"Vamos morrer!" Eu gritei para Ashenk, que me segurava entre seus braços.

Fechei os olhos e escondi meu rosto no pescoço de Ashenk. Ele me apertou, também esperando o golpe energético da Nave Mãe. Um golpe que não veio. Depois de alguns segundos, senti o braço de Ashenk afrouxar e levantei meus olhos. Diante de mim não via mais a Nave Mãe assustadoramente perto. Ao contrário.

Eu vi uma rede de naves esféricas que nos protegiam.

"Mas...!"

"Eles ouviram a mensagem, Lucy! Eles também ouviram a mensagem! Sem querer, acabei enviando a mensagem de minha mãe para todas as naves da Frota, e agora eles estão nos protegendo contra a nave mãe!"

Ashtar e os Imortais estavam cheios de ira. Aqueles metharianos mestiços não podiam se voltar contra eles!

Mas se voltaram. Cada general comandou sua frota para proteger o Filho do Imortal, o mestiço Methariano que lhes enviara a mensagem de Kali. Agora, nada poderia detê-los. Os Imortais não recebiam mais a energia vital, pois a maior parte foi coletada pelas naves da frota, e ainda não haviam sido redirecionadas para a nave mãe. E os Imortais agora estavam mais fracos. Os povos do Shan não enviariam mais nenhuma energia, e eles eram em maior número.

Ashtar ainda tentou negociar, mas a voz de Ashenk desta vez foi forte, como a de um verdadeiro comandante.

"Ashtar, você está derrotado. Não adianta mais. Você e seus parasitas não irão mais devorar nenhum dos mundos."

Ashenk guiou sua nave para frente da frota, contra a nave mãe.

"Você não pode me enfrentar!" A voz de Ashtar soou em todos os lugares da nave, deixando os pelos do meu braço arrepiados. Mas Ashenk não se intimidou.

"Todos nós podemos."

Foi quando vários feixes de luz foram disparados de todas as naves, encontrando-se em um único ponto à frente da nave de Ashenk. Com um comando das mãos, o feixe de nossa nave se juntou aos demais num único foco de luz, atingindo a nave mãe com um só golpe, forte demais para ser desviado.

E eu vi, com meus próprios olhos, a nave mãe ser despedaçada em milhões de pedaços espalhados pelo vácuo, desintegrando-se em seguida, sem deixar vestígio algum. E então, o silêncio.

Quem quebrou o silêncio foi o comandante de um dos quadrantes. Ele gritou, e todos os outros gritaram juntos, e as milhares e milhares de vozes metharianas gritavam em suas naves, ecoando para os controles das outras naves, e todos nós podíamos ouvir o grito de vida e liberdade ensurdecedor. E aquilo era inebriante.

"Conseguimos!"

Ashenk estava radiante. Nos abraçamos.

"Graças a você!" E ele me beijou.

Bem, eu devo acrescentar que Ashenk não era nada do que eu pensava quando o vi pela primeira vez, e nunca imaginei que fosse passar por isso depois de conhecê-lo. O que eu sei é que as vidas perdidas para os Imortais nunca mais retornarão, infelizmente. Mas conseguimos vencer os Imortais, e agora, nosso planeta está livre.

***

"E então? Quer voltar para seu Shan? Eu posso te deixar lá e..."

"Não." Eu disse categoricamente. "Estou neste Shan há muito tempo. Será que podemos conhecer outros lugares?"

Ele sorriu para mim. "Claro. Você é quem manda!"

Enquanto nos afastávamos para uma outra aventura, eu vi quando os demais Metharianos eram recebidos em meu planeta. Os terráqueos estavam felizes por terem sido salvos, e os metharianos estavam felizes por poderem viver em um lugar aprazível como a Terra, sem precisar mais viver numa nave.

Várias pessoas haviam desaparecido. Um terço da população sumira. Infelizmente, muitos ficaram sem seus entes queridos. Mas o planeta estava avançando para um novo nível. Os seres metharianos poderiam ensinar os terráqueos a serem pessoas melhores, com uma tecnologia avançada, e viver de modo pacífico, como era a vida em Metharia.

A paz estava chegando. Demoraria um pouco, mas chegaria.

Enquanto isso, eu e Ashenk fomos explorar as estrelas.


FIM.


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