Fevereiro - Capítulo Dois

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Havia sombrinhas de frevo de todas as cores. Alguns grupos mudavam as cores de acordo com o figurino e o tema da dança, mas normalmente carregavam as cores primárias. Olhou novamente o poema.

Quando as primárias girarem

"Se trata de um momento específico", ela falou alto. Estava sozinha na sala, mas a delegacia estava em polvorosa. Eram casos de furtos e brigas, mas todos estavam preocupados com o suicídio que havia ocorrido em pleno Galo da Madrugada. As redes de televisão agora queriam saber sobre o assunto, e ninguém os deixava em paz.

Observou o poema novamente e atentou para as frases seguintes.

No início de todos os caminhos,
A perdida será quem
Lhe mostrará o caminho.

"No início de todos os caminhos, deve ser um lugar específico..." falou novamente. "Temos um momento e um lugar e, pelo que vejo, lá encontrarei outra pista..."

Olhou para a TV. Foi para o computador e recomeçou sua pesquisa. Procurou por grupos de frevo e pela agenda cultural do Carnaval de Recife.

"Não acredito... como não pensei nisso?"



Neste momento, o agente que a informou do caso da suicida entrou em sua sala, com alguns papeis.

"Para você assinar."

Ela os assinou, e continuou olhando para a grade de horários em sua frente.

"O que foi, delegada?"

"O poema... me leva a uma outra pista. Aqui diz: 'quando as primárias girarem, no início de todos os caminhos.' Isto aqui é um momento e um lugar."

"E você já descobriu?"

"Hoje à noite teremos apresentação de um grupo de frevo tradicional. As primárias são as cores das sombrinhas."

O agente olhou para a delegada. "Então, o momento será esta noite, quando começarem as apresentações? E o local?"

"No início de todos os caminhos..." disse ela, virando-lhe a imagem para que visse o teaser do grupo.

"No Marco Zero."

"Isso mesmo, o polo central do Carnaval."

***

Anoitecera rápido, e Ângela estava preocupada. Ainda não decifrara o restante do poema, mas ainda não descartara a possibilidade de homicídio. Aquilo parecia um aviso deixado nas mãos de uma mulher, que se joga da sacada de um edifício, no meio de uma troça carnavalesca. Ela não era da cidade, e já havia sido identificada. Uma prostituta de luxo vinda do Rio de Janeiro especificamente para aquela festa. O dono do camarote sumira.

Chegou ao Marco Zero, e várias apresentações estavam marcadas para aquela noite, entre elas, a Escola Municipal de Frevo. Procurou o grupo nos bastidores.

"Precisamos fazer algumas perguntas", disse Ângela, acompanhada de dois agentes.

"Pois não, senhora", disse um homem, que parecia ser o coreógrafo da turma.

Seguindo um instinto e uma questão que se formara diante do poema ainda não decifrado, Ângela fez a pergunta mais óbvia.

"Alguém está faltando no grupo hoje?"

O homem arregalou os olhos, e olhou para os demais componentes, num grupo que seria de oito pessoas. "Sim, mas... como sabia?"

"Quem faltou hoje?" disse Ângela, sentindo o coração palpitar.

"Foi a Carmem. Ela estava certa para vir, mas de última hora, mandou-nos uma mensagem no Whatsapp avisando que não poderia estar presente."

Um dos passistas olhou significativamente para a moça, mas não disse nada. Ângela, acostumada a observar as pessoas, percebeu a mudança no ar.

"Diga, rapaz. O que houve?"

"Não foi nada... é que a Carmem nunca falta, só isso."

A moça franziu o cenho. Ângela virou-se para ela. "Já ouviu falar em obstrução da justiça?"

A garota se retesou. "Desculpe, só achamos estranho e não pensei que fosse ser um problema. A Carmem era meio louca, então... pensei que ela tinha..." o rapaz olhou feio para ela, mas ela continuou. "Eu pensei que ela tinha usado um teco, então, por isso a mensagem não fazia muito sentido."

"Eu posso ver a mensagem?"

A garota abriu no celular o aplicativo e mostrou-lhe a mensagem. Ângela olhou para o agente ao seu lado.

"Outro poema."

A moça franziu o cenho. "O que disse?"

"Envie esta mensagem para mim agora." disse ela. Virando-se para o agente: "Consiga um mandado de urgência para este aparelho. É uma prova circunstancial."

"Espere! Ela usava, mas por favor, não prenda ela!"

"Não se incomode com isso" disse a policial, já se retirando, lendo o poema. O agente encarregado por ela foi em busca de um mandado através de ligações, enquanto o outro acalmava a moça.

"Parece mesmo um destino."

E lembrou-se do restante do primeiro poema.

"Seu nome vai gotejar
Chegue antes de nada sobrar
Ou será seu desatino."

"Seu nome vai gotejar... seu nome vai gotejar... como a moça disse mesmo que era o nome dela? Carmem. Carmem. Carmem tem origem no nome da cor... carmesim, carmim, isto é, vermelho... uma das primárias! Seu nome vai gotejar, o vermelho vai gotejar... chegue antes de nada sobrar... Oh Deus!"

"O que foi?" disse um agente se aproximando.

"Essa garota, Carmem... está em perigo! Vamos!"


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