Fevereiro - Capítulo Cinco

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Como era esperado, o shopping estava fechado. Olharam para as portas do shopping.

"Veja", apontou Ângela. "Acima de cada arco de porta tem um número. Esta é a quarta porta. Ali está a quinta. Todas elas abrem, precisamos encontrar a porta que não se abre mais. O poema fala do antigo e perdido portal, se é perdido ele não é mais usado. Vamos lá! Você vai pelo lado direito e eu pelo esquerdo." Virando-se para os dois agentes, separou-os, um foi com Márcia e o outro com ela. "Quem encontrar uma porta desativada informe imediatamente pelo rádio. Eu já mandei pedir um mandado imediatamente para este shopping e também uma equipe socorrista. Por causa de ontem, já devem estar chegando."

E se separaram. Correu, passou pela ampla rua, não mais usada por carros, mas onde antigamente era a entrada da Santa Casa. Observou as portas, algumas funcionavam, outras não, mas ainda havia portas ali. Resolveu continuar procurando.

Assim que viraram a rua, ela viu e parou.

"É aqui! Tenho certeza!" Chamou pelo rádio. "Márcia, lado leste. Eu encontrei o portal antigo e perdido!"

"Estamos chegando aí!".

Ela olhou para a porta, muito maior do que as outras do edifício, e mais larga. Mas não havia mais porta ali. Apenas o arco onde ela esteve, e no lugar da porta, o espaço fora completado com alvenaria e pintado de preto. Acima, o portal era o único que não havia um número no arco, como os demais. Havia um nome.



"Onde a esperança costumava receber", falou no momento em que Márcia chegou. Ela olhou para cima e leu o que estava escrito.

"Entrada de ambulância!"

"Sim. Era por aqui que os doentes entravam, a ambulância entrava por este portal, que agora é perdido, já que foi selado. É este o portal perdido. Os doentes encontravam esperança quando chegavam aqui. Precisamos entrar e encontrar o outro lado desse portal imediatamente."

"É por isso que eles estão aqui", disse o agente, apontando para a equipe que acabava de chegar.

"Logo, já são quase meio dia!"

Ângela andava de um lado a outro. "Eu não sei como esse cara consegue entrar nesses lugares! Eles estão fechados desde a sexta-feira por causa do carnaval! Ele não pode ser um funcionário de duas empresas diferentes, como os Correios e o Shopping do Paço!"

"Ou ele tem cúmplices dentro dessas empresas ou..." disse Márcia conjecturando, "... ou ele fez isso antes desses lugares fecharem..."

"Abrimos!"

Ângela e seus policiais correram shopping adentro, procurando o local leste onde deveria haver a porta de entrada para ambulâncias. No lugar, havia uma loja desocupada e trancada.

"Tem que ser aqui", disse Ângela, tentando enxergar pelo vidro. "Olhem! Tem algum movimento lá dentro!"

Foi então que um rastro de fogo passou por um pavio longo, cruzando a loja até o seu centro, onde havia uma moça, nua, usando uma meia máscara veneziana dourada, com uma mordaça na boca. O grito ficou preso em sua garganta, e por trás da máscara Ângela podia ver seu olhar aterrorizado.

Ela não pensou duas vezes e atirou na porta, estilhaçando o vidro. Correram para dentro da loja, mas o local onde deveria haver extintores de incêndio estava vazio. Os dois agentes correram pelo térreo do shopping, e nada. Começaram a subir as escadas paradas para procurar. Ângela tentava apagar o fogo como podia, mas não conseguia. A mulher gritava.

"Aqui!" Gritou o agente, descendo rapidamente as escadas e passando o extintor para um dos técnicos que abriram a porta. Este correu e começou a apagar o fogo. A moça estava desmaiada.

Os socorristas começaram a atendê-la. Ângela estava apreensiva, pois conseguiram salvar a mulher. O corpo dela estava bastante ferido, mas sabia que ela sobreviveria, e poderia dar alguma pista. A moça abriu os olhos brevemente, olhou para ela, e sussurrou-lhe uma palavra.

"Papangu..."

"O quê?"

"Ele... usava... mascara..."

"Ele usava uma máscara de papangu? Alguma outra evidência? Alguma marca específica? Alguma coisa!"

"Saudade..."

E desmaiou.

"Droga!"

"Esta moça precisa se recuperar, delegada. Precisamos levá-la."

"Espere. Ele sempre deixa um poema, um papel, alguma coisa."

Os socorristas a levaram numa maca. Márcia olhou para ela. "Não desta vez. Se ele deixou algo, não foi nela, pois sabia que queimaria."

"Não faz sentido!" Tentou acender a luz, mas esta não funcionava. "Ei, você tem uma lanterna?" perguntou a um dos técnicos.

"Sim." Ofereceu-lhe uma lanterna, e Ângela começou a vasculhar os cantos, quando viu algo nas paredes. Apontou o facho para o local e se deparou com um poema escrito nas paredes.

"Quero saber quem é o dono desta loja."

Fotografou a parede com o celular e saiu dali.

***



Estava em sua sala, e sentiu o cansaço a abater. O delegado adjunto entrou.

"Ângela, vá para casa descansar. Você está acordada há mais de vinte e quatro horas."

"Não posso, Medeiros. Preciso saber, não consigo! Esse poema mostra que ele vai matar mais alguém!"

"Deixe eu ver."

"Onde está Márcia? Ela é ótima com esses poemas..."

"Ela já foi para casa, ela ficou mais tempo do que deveria, mas volta mais tarde. Ela disse que se não estiver aqui para ajudar, é capaz de outra moça morrer."

Ângela riu. "Ela realmente me ajudou."

Pegou o celular e mostrou ao delegado para que lesse. "Eu já o li e reli, mas não parece haver um local. É um poema menor que os outros desta vez. E minha mente está cansada."

Um escrivão entrou na sala. "Delegada, ligação. É o governador."

"Passe para mim imediatamente." Foi para sua mesa e pegou o telefone. "Vossa Excelência."

"Delegada, soube do que está acontecendo e que está à frente do caso. Alguma notícia?"

"Conseguimos salvar a última vítima, mas ele deixou outra pista. Estamos trabalhando nela agora mesmo, Senhor Governador."

"Se precisar de qualquer coisa, não hesite. Não podemos permitir que algo assim acabe com o nosso Estado. As notícias nos jornais do país, que deveriam focar em nosso carnaval, só falam desses assassinatos. O Carnaval de Pernambuco está sendo conhecido na mídia como o Carnaval Macabro, e só se fala disso nas redes sociais. Fazemos o que podemos com os jornais, mas temos que contornar imediatamente esta situação, entendeu?"

"Sim, Senhor Governador. Faremos o melhor."

"Obrigado, delegada. Conto com sua eficiência."

Desligou. "Ainda mais essa agora!"

"Bem, já que até o governador está interessado, vamos cair nesse poema agora mesmo."

"Vamos."

Olharam para a imagem da parede.

Venham ver, chegou a hora
A terceira vai dançar!
Qual é a cor que falta
Para a festa começar?
Pelo falo de Netuno!
Esta festa vai bombar!
Minha cor está crescendo:
Eu mal posso respirar!

"Pelos outros poemas, tenho certeza que se trata de uma morte por afogamento. A cor que falta é a azul, o mar. Ele fala em Netuno, deus dos mares, a cor crescendo deve significar a maré subindo. Mal posso respirar indica a morte por afogamento, claro. Morte é o tema desses escritos." Esfregou uma têmpora. "Nossa cidade é litorânea, tem mar por todo o lado! Como vou saber onde ela está?"

Medeiros pensou um pouco. "Não há nada aqui que indique localização, apenas o mar e a morte."

Os dois ficaram em silêncio. O escrivão entrou com uma pasta. "A relação das pessoas presentes no camarote da Guararapes." Deixou a pasta em cima da mesa de Ângela e saiu. Ela abriu e começou a ler os nomes e profissões. Os contatos de cada um seguia abaixo de seus nomes.

"Verificar cada um vai tomar um tempo que não tenho. Mesmo assim, o assassino está aqui, entre esses nomes, com certeza."

"Deixe eu ver." Ângela passou a relação para ele. "Hum, gente rica, com certeza. Algumas mulheres desconhecidas, provavelmente 'acompanhantes' de alguma agência."

"Sim, a primeira vítima foi identificada e sua companhia foi localizada no Rio de Janeiro, capital. Foi contratada pelo dono do camarote, Marcus Azevedo."

"Não brinca!"

"O que foi?"

Ele sorriu. "Marcus Azevedo é um dos maiores carnavalescos de Recife. Ele sempre foi responsável pela organização dos polos e do carnaval da cidade."

"Você disse que 'foi'? Não é mais?"

"Não. Este ano ele foi substituído por Marcelo Amorim, outro carnavalesco. A prefeitura e o governo do Estado preferiram investir em outra pessoa, e estão gastando muito dinheiro com isso. Querem o melhor carnaval, mas parece que não estão conseguindo."

"O que torna esse Marcus Azevedo um grande suspeito. Ele foi preterido por outro, e era dono do camarote. Quero interrogá-lo."

Ele sorriu. "Vamos fazer isso imediatamente."

"Se a moça tivesse pelo menos visto alguma coisa do assassino! Ele usava uma máscara de papangu."

"Alguma informação a mais?"

"Não, ela só disse 'saudade'. E desmaiou. E agora está no hospital. Um homem com uma máscara de papangu no meio do carnaval? Está difícil."

"Mas um homem com uma máscara de papangu no meio do Bloco da Saudade? Acho que é bem fácil de identificar." Medeiros virou a tela de seu computador para ela, onde havia a agenda do Bloco da Saudade. "Depois de amanhã eles desfilarão pelo Marco Zero."

"Isso é uma pista!"

"Mas antes, precisamos saber onde a moça da cor azul está. Amanhã teremos maré alta."

Debruçaram-se novamente sobre o poema. "Pelo falo de Netuno, isso realmente está me consumindo!"

Ele sorriu. "Isso de apelar pelos órgãos genitais do deus do mar foi engraçado."

"Pelo falo de Netuno..."

Ele parou de rir. Olhou para ela, estava com a mente distante. "Pelo falo de Netuno! É isso! Temos a localização! Quando foi a maré alta hoje?"

"De manhã."

"Temos tempo!"

Ele não entendeu, mas ela já ligava, pedindo equipe de mergulhadores.


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