Cosmic - Capítulo Três

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No fim das aulas, procurei Ashenk em toda a parte, mas ele parecia ter evaporado. Fui em todos os lugares e nada. Eu não podia simplesmente ir pra casa e deixar ele perdido por aí. Eu me sentia responsável, apesar de morrer de vontade de largar ele de mão. Onde já se viu me deixar sozinha e ficar com a Mary para todos os lados?

Até que o encontrei. E não foi nada do que eu esperava.

Ele estava de costas para mim. No jardim da escola, debaixo de um grande carvalho, numa área afastada do estacionamento. E estava de pé, mas sua cabeça estava baixa, e suas mãos apertavam as têmporas de um jeito que me assustou.

"Ashenk? Está tudo bem?"

Ao som de seu nome, ele deu um pulo e ficou de frente para mim. Seus olhos estavam vermelhos e inchados.

"Meu Deus, Ashenk, o que houve?"


"Eu não consigo achar a frequência da frota."

Traduzindo: ele não achava a frequência das naves, de onde ele caíra para a Terra. Mas, como ele podia encontrar a frequência sem nenhum equipamento? Só com o som?

Caramba, ele era um ET. Isso fez minha ficha cair.

"Olha, Ashenk, uma hora ou outra você vai conseguir. Venha, vamos pra casa."

E toda a necessidade de brigar com ele evaporou. Levei ele até o carro, ele se apoiava em mim o tempo todo, o que era meio difícil, já que ele era tão grande e eu tão franzina.

Ao chegar em casa, ele não disse uma palavra. Apenas deitou-se na minha cama e apagou. E eu fiquei de vigília, super preocupada, sentada ao lado dele na cama.


***

Ashenk dormiu até o dia seguinte, não pude evitar. Quando cheguei da escola, ele ainda estava dormindo. Tentei acordá-lo e nada, então desisti e fui pro computador. Quase tive um ataque do coração quando vi que ele estava de pé atrás de mim, silencioso.

"Lucy, como funciona esta coisa?" ele apontou para o computador.

"Ah... ajuda em tantas coisas... bem, não existem computadores em sua nave?"

"Computadores? Bem, existe uma máquina que opera tudo, mas não chamamos assim. Mas acho que significa a mesma coisa. De todo o jeito, não a usamos desta forma."

"Sério? Não operam as máquinas? Como vocês fazem para pilotar a nave?"

Ele sorriu de um jeito que me deixava com falta de ar. Com dois dedos da mão direita, tocou levemente a têmpora. "Assim." E não deu maiores explicações. Ao invés disso, apontou para meu computador. "Será que é possível conseguir encontrar alguma nave com isso?"

Eu sorri. "Não acredito. A gente nem sabia que havia mais alguém lá fora! Quanto mais localizar naves!"

Ele ficou pensativo, mas percebi que havia uma sombra triste em seus olhos. "Venha, sente-se aqui", puxei um puf para ele sentar-se ao meu lado. Abri um site de busca. "Qual o nome mesmo da sua frota?"

"Federação Galáctica da Luz, Frota Cosmic".

Levantei uma sobrancelha. "Sério?"

Ele deu um meio sorriso. "Estou tentando traduzir para sua linguagem. Mas talvez você encontre algo com o nome do nosso comandante. Ele já enviou uma mensagem para a Terra, e tivemos confirmação de recebimento."

Desta vez fiquei curiosa. Nunca soubera a respeito disso, aliás, não é algo que se comenta no jornal.

"Ok. Qual o nome do seu comandante?"

Ashenk quase cuspiu o nome. "Ashtar. O nome dele é Ashtar Sheran."

Digitei o nome soletrado por ele e um monte de páginas e de sites apareceram. Nas listas, percebi que a maioria era de sites esotéricos. Procurei por mensagens enviadas e apareceu mais um sem número de páginas. Abri a primeira no topo da lista.

Eu não sei se me espantei para o fato de haver realmente mensagens receptadas de um comandante Ashtar Sheran, ou se saber que estas mensagens tinham um conteúdo fatalista. Eles estavam vindo.

A mensagem dizia para não termos medo, pois eles estavam vindo realizar a missão, e que o tempo estava muito próximo. Alguns já acreditavam que orbitavam nosso Sistema Solar, e provavelmente chegariam por aqui nos próximos dois anos.

Olhei para Ashenk, que mantinha uma expressão neutra.

"Você caiu de uma dessas naves, não é? Dessa frota? Eles estão vindo pra cá?"

Ashenk suspirou.

"Sim. E estão chegando em pouquíssimo tempo. Não em anos, mas em dias."

"O quê?"

"Sim. A frota está chegando, mas eu não caí da minha nave. Eu saí por conta própria. Eu fugi."

"Mas por quê?"

Ele se levantou e caminhou para sentar-se em minha cama. "Isso é um assunto familiar." Seu olhar se desviou para minha janela, de onde se dava para ver a lua. "Mas acho que tomei uma decisão precipitada, como sempre."

O silêncio reinou. Olhei para seu rosto e lembrei do momento que o encontrei na escola.

"Ashenk, como você tentou contactar sua frota, ouvir a frequência?"

Ele franziu o cenho. "Não sei como vocês fazem, mas eu uso minha mente..." ele tocou novamente a têmpora. "Nós nos conectamos, enviamos mensagens uns aos outros, comandamos nossas naves e acessamos os dados através da nossa mente. Não sei como te explicar, é algo que fazemos."

Olhei para ele e percebi o quanto éramos atrasados tecnologicamente, e o quanto ele deveria achar estranho todo o nosso mundo.

"Você não conseguiu... e sabe por quê?"

"Eu não sei. Não haveria formas de cortar a frequência, é uma coisa que aprendemos desde sempre! Eu deveria captar, afinal, estávamos muito perto quando eu resolvi sair."

"Mas... Ashenk. Como não captamos uma frota inteira de naves próximo a nós? Temos telescópios super avançados que captam imagens do outro lado de nossa galáxia. Como não os vimos em nosso sistema solar?"

"Lucy, nossas frotas não viajam na sua dimensão."

Ele tinha os olhos pesados novamente. "Preciso... dormir... repor minhas energias... eu tentei rastreá-los até... muito longe..."

Então ele simplesmente deixou-se dormir novamente em minha cama. Um pensamento aterrorizante me invadiu.

"Eles estão aqui. Eles estão vindo, e, por algum motivo, Ashenk se desvinculou da frota. Por quê?"


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