Cosmic - Capítulo Dois

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Chegar em casa com um homem daqueles sem chamar atenção era impossível, mas, como minha mãe ainda não havia retornado do trabalho, as coisas foram se encaixando devagar. Subimos rapidamente até o meu quarto. Eu dei a ele toalhas, uma camiseta e um jeans do meu irmão. Meu irmão não era tão alto, mas achei que serviria por hora.

Mostrei onde era o banheiro. Ele pareceu sorrir ao ver onde tomaria um banho, mas não fez nenhum comentário. Será que de onde ele veio não se toma banho? Ou pior, se toma banho de um jeito estranho, que eu não quero nem saber?

Saí do banheiro e esperei do lado de fora, para caso alguém da minha família chegasse. Ninguém chegou, Ashenk terminou seu banho e saiu. Não estava vestido com a roupa que eu dei, mas completamente nu.

"A roupa não serviu." ele disse tranquilo. Minha boca ficou aberta e eu imediatamente comecei a imaginar coisas. Acordei de um devaneio e puxei ele pela mão até meu quarto.

"Você não pode ficar sem roupas. Preciso arrumar umas roupas pra você."

Ashenk simplesmente se deitou na minha cama e esperou, com as mãos atrás da cabeça. Respirei fundo para me concentrar. Me lembrei que Sean havia deixado uma camiseta e uma calça da última vez que havia estado escondido no meu quarto. Ele entrava pela janela (escalava a varanda) e passava a noite comigo. Claro, se meus pais soubessem disso, me esfolariam viva, fariam bolsas com minha pele e venderiam no mercado negro.


Entreguei as roupas a ele. Ele imediatamente começou a vesti-las e eu virei-me de costas, vermelha.

"Ashenk!"

"O que foi?"

"Não pode se trocar na minha frente!"

"Mas por que não?"

O tom de sua voz não parecia ser nada além de curiosidade. Ele era louco, eu era louca, ou ele era realmente de outro planeta!

"Porque, porque, ah, deixa pra lá. Terminou?"

"Sim".

Me virei, ele estava sem camisa, mas pelo menos estava de calça.

"Não me leve a mal... er... Lucy, certo?"

"Sim"

"Mas não vou vestir esta camiseta agora. Minha sensação térmica é muito alta. Não estou aguentando as roupas comuns que você me deu. Minha roupa está danificada, infelizmente. Ela ajustava a temperatura do meu corpo para que ficasse confortável. Agora, preciso me adequar. E neste exato momento, estou com muito calor."

Oh, nem me falasse uma coisa dessas. Eu estava com muito calor. Embora, estivesse agasalhada, pois a noite estava caindo e com ela vindo um frio...

Então, Ashenk, sem nenhuma cerimônia, deitou-se em minha cama e... dormiu. E eu, ali, de pé no meu quarto, olhando para ele, sem saber o que fazer.

***

"No Cosmo, tudo é ordem e harmonia; até a suposta movimentação que tenta nos colocar à prova de nossa concepção:

a desarmonia e a desordem."

(Frase contida em suposta mensagem enviada à terra por Ashtar Sheran, suposto comandante de uma frota estelar extra-terrestre)

Eu não deveria ter deixado ele vir comigo pra escola. Mas, se eu não deixasse, ele ia pra onde? Lá em casa é que ele não poderia ficar. Foi o maior malabarismo para evitar que minha mãe soubesse da presença dele.

O pior foi quando eu fui oferecer comida de manhã. Ele não gostou de nada que ofereci. Achou tudo com um gosto muito estranho. Ele só gostou dos ovos que minha mãe havia feito, e de um pouco de maçã. Onde já se viu... ovos mexidos e maçã? Ele não era desse planeta mesmo.

Antes de ir à escola, fomos ao shopping. Iríamos chegar atrasados, mas precisávamos fazer umas comprinhas para o meu novo amigo. Ashenk não podia chegar na escola com aquelas roupas. Compramos novas coisas para ele: jaquetas, casacos, camisetas, calças, sapatos, tênis... bem, meus pais vão me matar quando chegar a fatura do cartão no fim do mês, mas eu dei um jeito de comprar em lojas unissex. Assim, na fatura viria o nome da loja, e eu invento que comprei roupas para mim. Não teria de explicar a compra de roupas masculinas: eles não saberiam delas.

Ele ficou maravilhoso. Ainda mais porque o frio não o intimidava. Sua temperatura corporal era diferente, ele estava sempre com calor. Então, num belo dia mais frio, não tão invernal, mas onde todos estavam de casaco, lá estava ele com um suéter simples, calças e tênis. Ah, e os óculos escuros, que ele achou o máximo.

Entramos no colégio, e eu dei uma passada na secretaria. Precisávamos explicar a presença deste "não-aluno" na escola.

O fato de ele falar várias línguas ajudou. Ele agora era um francês, com sotaque e tudo, que viera aos Estados Unidos para um intercâmbio, e, como estava hospedado em minha casa, teria que assistir algumas aulas como ouvinte, para não ficar sozinho numa cidade desconhecida. Meus pais, tão ocupados em seus afazeres, não teriam tempo de serem verificados pela escola. Isso era ótimo.

Chegar acompanhada na escola depois da maior decepção da minha vida, definitivamente estava trabalhando o meu ego. Mary ficou despeitadíssima, ao lado de Sean, achando que iria me ferir com esta aparição. Mas Ashenk, agora Adrien, era o espetáculo da vez. Nenhuma garota tirou os olhos dele quando entramos pela cafeteria, onde iríamos almoçar. É, chegamos atrasados, mas foi um acontecimento.

O problema é que todo o encanto e magia acabaram quando Mary se aproximou de nossa mesa. Eu havia me esquecido de comentar com Ashenk sobre ela, e pedir que ele se afastasse dela. Quando ela chegou, toda mansa, com seu belo corpo, toda olhares e palavras doces, seus olhos e sua atenção se voltaram para ela. Ele nem piscou, nem pensou duas vezes, e nem olhou para mim quando ela o convidou a ver o ensaio das líderes de torcida, após o almoço, na aula de educação física. Levantou-se e saiu com ela. Ela olhou para mim por cima do ombro e piscou, enquanto todos olhavam para mim, inclusive Sean.

"Droga, mil vezes droga!" eu xinguei. Por que essa garota tinha que me marcar desse jeito?

Eu não ia me deixar levar. Se ele quisesse ir com ela, que fosse. Eu ia participar também do ensaio, é claro. E, no fim das contas, ele teria que voltar para casa comigo. Então, eu conversaria com ele.

Eu não sei porque, mas eu tinha a impressão de que as coisas não seriam nada fáceis com aquele garoto. Nada mesmo.

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